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BalCast #48 – Parte 1 – Entrevista com Ton Lucas

Hoje temos a parte 1 do BalCast com meu amigo Ton Lucas! Neste papo, vamos falar um pouco sobre o trabalho do Ton no ramo da odontologia usando a hipnose, sua formação em psicologia e outros questionamentos hipnóticos. E fique tranquilo que semana que vem teremos a segunda parte que vai concluir essa entrevista épica!

Senhoras e senhores, menininhos e menininhas, ladies and gentlemen

Eu sou o Rafael Baltresca e esse aqui é mais um… BaaaaalCast!!!

Rafael Baltresca, de novo aqui, para mais um BalCast. Dessa vez, de paletó e camiseta em homenagem ao… Cara, para mim, você é o cara mais hippie da hipnose brasileira. Mas depois que você cortou o cabelo e veio o Wender… Ai você não é mais. E agora, psicólogo então, né?

TL: Então, eu não sei se ser psicólogo ajuda a ser mais ou menos hippie, cara. Eu não sei ainda…

RB: Vou te chamar agora de… Doutor.

Ton Lucas, para quem não conhece, vou fazer uma explicação rápida. Esse poldcast é transmitido via ‘poldcast’, obviamente… Via videocast e também por texto. Então, muita gente vai estar te vendo em vários cantos do mundo e se perguntando: Quem é Ton Lucas?

Ton Lucas é um cara que eu conheci de um jeito muito maluco. Você lembra quando a gente se conheceu pessoalmente?

TL: Lembro, cara. Foi um dia memorável e bem doido…

RB: É, vou resumir para quem está ouvindo a gente.

TL: Vamos lá.

RB: Fui fazer uma palestra em Fortaleza e tinha mais ou menos cinco mil pessoas.

TL: Você achou que não era tão grande, né?

RB: Eu não achei, cara. Quando eu cheguei lá, era um público de pessoas com quarenta/ cinquenta para cima, muitas senhoras de setenta/ oitenta anos. Quando eu vi aquele público, pensei na minha palestra – que seria no dia anterior – e falei: ‘’Cara, quando eu fizer a hipnose, tem uma parte com as mãos grudadas que é um processo de seleção da hipnose, teriam umas quinhentas pessoas, com as mãos grudadas, nessa plateia gigante de cinco mil pessoas. Então, eu comecei a procurar por hipnólogo de Fortaleza, perguntando para um e outro, alguém me falou: Cara, o Ton Lucas.

A gente tinha se falado pela internet, né?

TL: É, pelo Facebook, pouca coisa…

RB: Eu falei: ‘’Ton, me ajuda! Eu preciso disso para amanhã, doze hipnólogos aqui às 7h da manhã, porque vou precisar de ajuda’’. Quando tiver quinhentas pessoas com as mãos grudadas, quem é que vai desgrudar? E você me ajudou, cara…

TL: E tem gente que não desgruda, né?

RB: Você me ajudou, cara.

A gente fez um paredão de um lado e do outro, né? E, na hora da hipnose, foi espetacular!

TL: Foi engraçado que você deu essa missão e falou: ‘’Consegue dez; doze; quinze hipnólogos para ajudar?’’. Eu falei: ‘’Beleza, tenho uma noite para encontrar essa galera’’.

Comecei a colocar nos grupos dos meus alunos de Fortaleza. Quando eu vi, tinha uns trinta querendo ir, eu falei: ‘’Cara! Calma.’’ E foi demais.

Só vamos limitar… E todo mundo querendo ajudar, mas foi espetacular!

RB: E, assim, conheci Ton Lucas…

Bom, o Ton trabalha com hipnose, é hipnólogo clínico.

Você fazia um trabalho muito forte com dentistas, com a parte anestésica, né?

Me conta um pouquinho do que você fazia…

TL: É. Comecei  no finalzinho de 2013/ início de 2014 a trabalhar com uma amiga minha que é dentista. Na verdade, começou como uma brincadeira na prima dela, que tinha problemas e sentia muita dor, então ela falou: ‘’Vamos lá no consultório para fazer esse negócio de hipnose, de repente você pode ajudar ela’’. Na época, eu estava hipnotizando os amigos nos lugares, na casa dos outros para fazer sessões de hipnose.

Então eu fui, já tinha começado o canal no YouTube, na época tinham uns dois/ três vídeos na Internet, e gravei a experiência. Foi tão legal, porque o resultado também foi e o vídeo deu uma bombada nos grupos de hipnose, muita gente comentando sobre aquilo: ‘’Nossa, que legal! Um hipnólogo trabalhando junto com uma equipe de dentistas’’. Bombou!

Então, ela achou aquilo legal e me chamou para trabalhar.

Comecei a fazer parte da equipe e passei mais de dois anos lá, indo todo dia para o consultório, atendendo os pacientes dela.

RB: Cara, eu não imagino como que é esse trabalho diferente. Você ir no ambiente de um dentista…

Os pacientes sabiam que iam ser hipnotizados ou você armava a armadilha lá na hora?

TL: No começo era engraçado porque tinham pacientes que ela já atendia antes, então disse: ‘’Olha, tem o Ton aqui que vai te ajudar’’. E muitos aceitaram de boa. Mas, na época, a hipnose não tinha esse ‘’BUM’’ todo, essa coisa tão popular. Então, as pessoas conheciam pouco de hipnose. Tinha gente que chegava lá com medo de dentista e falava ‘’ah, tenho medo, sinto desconforto, o barulho do motorzinho me causa pânico’’, ai ela falou ‘’pode ficar tranquilo, agora tem o Ton aqui e ele vai te hipnotizar’’. A pessoa parava, ‘’pera, hipnose?! Dentista não é tão ruim assim. Prefiro o motorzinho mesmo, tá tranquilo, passou o medo. Sempre gostei de dentista, não preciso de hipnose…’’. No começo, tinha muita gente com resistência assim, mesmo por quê elas não sabiam o que era, achavam que era algo místico e aquela coisa toda. Muitas pessoas eu conversava ‘’não é bem assim o que você está pensando’’, falava e explicava, então a aceitação passou a ser bem maior com o tempo, os pacientes falavam um para o outro. Depois de um tempo, pessoas que iam lá, ligavam: ‘É ai que vocês tem hipnose? Porque eu sinto dor, tenho medo de dentista’’.

RB: Ton, ela cobrava a mais por conta do hipnólogo que estava lá ou embutido no preço e ela pagava você por parte?

TL: Ela me pagava a diária.

RB: E o paciente não tinha nenhum custo?

TL: É. Não tinha nenhum custo a mais. Nós preferimos fazer assim para abaixar a resistência. Porque já havia a resistência pela hipnose em si, então a pessoa pensava: ‘’Putz! Eu ainda tenho que pagar por um negócio que eu nem sei se existe’’.

Então, pensamos ‘’a gente não vai cobrar do cliente’’ e com o tempo foi gerando mais pacientes para ela.

RB: Fazia sentido. E na prática? Você ficava com eles antes da sala e entrava fazendo todo o preparo ou não?

Porque eu imagino que o tempo dela dobrava de atendimento, né?

TL: Então, na verdade, não. Achamos que precisaria de mais tempo, mas tinham muitos atendimentos dela que eram em trinta minutos. Ela tem trinta minutos, da hora que o paciente entra para conversar com ele, fazer o procedimento, sair e começar outra. Eu tinha esse tempo para fazer o meu trabalho também.

RB: Antes, então…

TL: Não, eu fazia na hora. O paciente entrava, ela conversava com ele ‘’olha, o Ton está aqui, é hipnólogo, se quiser ele pode te ajudar’’ e eu tinha cinco/dez minutinhos para fazer um per talk, uma indução, um teste, a sugestão e falava ‘’olha, está pronto!’’ e eu saio, a dentista entra e começa a fazer o trabalho.

A gente achou que isso atrapalharia o trabalho dela. Vou pegar cinco/dez minutos do tempo dela… Mas pelo tempo que ela passou a economizar, no procedimento, valeu a pena.

RB: Claro. Porque ela deixou de dar anestesia. Muitas vezes, no dentista, a anestesia precisa esperar um tempo para fazer efeito. Então isso, sumiu?

TL: Não era só a anestesia. Porque o problema não é o tempo da anestesia em si, mas o trabalho que os pacientes davam para aplicar a anestesia.

Tinham muitos pacientes que chegavam lá, viam a agulha da anestesia – que é relativamente grande – e olhavam ‘’ah, não; não; não…’’, começavam a ficar tensas e ansiosas demais e isso atrapalha/atrasa o trabalho da dentista.

RB: Atrasa tudo.

TL: Tanto que já teve casos, por exemplo, de a gente fazer cirurgias que o tempo médio é 1h30min/2h, em quarenta minutos. Uma cirurgia de implante que foi feito com hipnose. Ela falou ‘’normalmente eu levo 1h30min a 2h para fazer essa cirurgia’’, nessa paciente que a gente fez, demorou quarenta minutos para fazer. Porque a paciente ficou tão tranquila e relaxada, que parecia um manequim de boca aberta e foi rapidinho.

RB: Entendi. Quer dizer, não tinha a resistência de abertura da boca, porque dói ficar com a boca vinte minutos aberta, fica latejando. Quer dizer, você já hipnotizou geral para ficar um ‘bonequinho’ lá. Abre, faz o que tem que fazer.

Vou fazer uma pergunta. Vou ser advogado do diabo aqui, ein…

Não vou fazer perguntinhas de hipnose, não.

E quando não pega a anestesia hipnótica?

TL: Então, as pessoas tem a ideia de que hipnose na odontologia é só para dar anestesia. Na verdade, não. Raríssimas vezes, substituíamos a anestesia química por anestesia hipnótica.

RB: Entendi.

TL: Em muitos casos, nós dávamos os dois. A grande maioria dos casos, na verdade.

Eu fazia todo o procedimento de anestesia e ela vinha com a anestesia química, também. Porém, pelo fato de a pessoa estar mais relaxada e não ansiosa, ela dava menos anestesia do que o comumente precisaria. Às vezes, a pessoa está muito ansiosa, ela dá um tubete de anestesia, não pega. Precisa dar outro, não pega. Dá outro, não pega. Então, começa a pegar.

RB: Não. Faz todo sentido.

TL: Então, a hipnose é mais no sentido de tirar a ansiedade do que dar anestesia em si.

RB: Você está trabalhando a tensão da pessoa, o medo, um pouco do desconforto de estar no dentista e também, a anestesia.

TL: Essa é uma das coisas. Às vezes, também, o controle de dor. O paciente chega sentindo uma dor, a dentista olha e vê o foco da dor, ai eu fazia o procedimento para tirar a dor, no caso uma analgesia – que é diferente da anestesia – a pessoa parava de sentir dor e iniciava o tratamento de forma mais confortável. Ao invés de ela começar ‘’ai, ai, ai tá doendo…’’ e isso atrasar o tratamento. Então, a hipnose agilizava. Cinco minutinhos que eu gasto com a hipnose, economiza muito mais tempo de atendimento da dentista.

RB: E ai, você ficou dois anos e parou de trabalhar com ela?

TL: Então, por causa dos projetos comecei a viajar, com curso e crescer os atendimentos. Porque paralelamente aos trabalhos na Odontologia, eu fazia os atendimentos de hipnoterapia e faculdade de Psicologia. Comecei a viajar, fazer cursos e dar palestras fora. Então, meu tempo deu uma limitada.

RB: E quando você falou ‘’não vou mais’’? Aqueles pacientes que estavam acostumados, gostavam… Continuaram te pedindo?

TL: Então, acontece que tiveram alguns pacientes, naquela época, que foram até o meu consultório, fazer uma sessão de hipnose comigo para, depois, ir à dentista fazer o atendimento.

Então, teve gente que precisou ir lá. Ainda assim, continuo fazendo alguns atendimentos lá, agendados. Tem alguns pacientes que falava ‘’olha, Ton. Só vai com hipnose’’, então eu marco um dia que estou livre, deixo de fazer um atendimento, vou até o consultório e faço para aquele paciente específico ou ele vai até mim, eu faço o procedimento, trabalho a questão da tranquilidade, instalo uma âncora, faço com que ela – ensino a auto hipnose – para que na hora do procedimento, ela mesmo consiga fazer aquele estado.

Agora, aqueles pacientes ‘’ah, não consigo de jeito nenhum’’, ai eu vou lá.

Eu não estou mais ficando lá devido ao tempo mesmo.

 

RB: Vamos falar um pouco da parte da psicologia. Engraçado, porque quando eu comecei a entrar na Hipnose, conhecer os hipnólogos; hipnoterapeutas e hipnotistas na rua, sempre que tinha o assunto da psicologia, eles caiam massacrando. Assim como, os psicólogos massacram a gente, principalmente os psicanalistas. O psicólogo não, né? Ou um pouco…

TL: Então, o discurso do psicanalista contaminou todos os outros.

RB: Porque na faculdade de psicologia, você tem a cadeira psicanálise.

TL: Muita psicanálise.

RB: Tem, né?

TL: Tem várias cadeiras de psicanálise.

RB: Cara, eu tenho uma história boa disso daqui.

Eu comecei a fazer faculdade de psicologia, não sei se você sabe, no ano de 2011. Muito bem!

Comecei a faculdade, tinha psicologia comportamental, o Skinner, psicanálise… Putz, não lembro…

TL: Cognitiva? Gestalt?

RB: Cognitiva não tinha no primeiro ano. Gestalt tinha.

TL: ACP, humanismo?

RB: Bom, não lembro. Faz sete anos ai…

Comecei. A primeira aula que eu tive foi de psicanálise. A professora, primeira aula dela – eu lembro até hoje, uma senhorinha baixinha – e  eu era o mais velho da turma. Agora estou com trinta e oito, fazem sete anos, estava com trinta e um, era minha segunda faculdade, quis fazer o período de manhã mesmo. Lá, tudo molecada de dezessete/dezoito e eu com trinta e um, um senhorzinho lá.

Entra a professora de psicanálise, ela falou: ‘’Bom, pessoal. Vou tratar da cadeira de psicanálise’’. Depois de cinco minutos, uma menina levanta a mão e fala ‘’ah, professora! Muito legal! A senhora vai falar de hipnose, também?’’

Cara, ela deu uma aula de trinta minutos para gente, só ‘metendo o pau’ na hipnose.

‘’Então, vou deixar bem claro aqui para vocês, meus queridos alunos, que a hipnose é uma coisa que não existe, porque Freud utilizou um tempo…’’ – e aquele papo de psicanalista quadrado.

TL: Está errado, né? Porque se o Freud utilizou algo que não existe e é o grande nome da psicanálise…

RB: E ela já começou assim: ‘’Na verdade, o Freud utilizou um tempo, viu que não funcionava, quando ele compreendeu que não servia para nada, ele voltou para a terapia pela fala e desenvolveu o que a gente conhece até hoje’’. Então, ela fez aquele discurso ‘metendo o pau’ na hipnose.

Eu só fui fazer faculdade de Psicologia, devido à hipnose. Eu estava na hipnose desde 2007, há quatro anos já, gostava do tema mente/cérebro e todas essas coisas, ‘’vou estudar psicologia’’.

Quando ela começou a falar isso, me deu uma coisa… Levantei a mão, com a maior humildade de quem estava na primeira aula da faculdade e disse: ‘’Professora, dá licença. Me desculpa, eu trabalho com hipnose há quatro anos já, adoro/amo falar sobre isso, e tem um livro do Freud que ele mesmo diz ter parado de utilizar a hipnose porque ele não era tão habilidoso quanto o Breuer, que era professor dele. Ele mesmo disse que parou por falta de habilidade, não que a hipnose não existe’’.

Cara, bastou isso para eu tomar ‘porrada’ até o fim da aula.

TL: Você foi expulso da faculdade.

RB: Não fui. Eu tranquei no final do ano quando a minha mãe faleceu, minha vida virou de cabeça para baixo.

Mas aquele dia foi engraçado porque foi só eu dizer isso, ela falou: ‘’Bom, para começo de conversa, se você veio aqui para aprender hipnose, você não vai aprender’’, ‘’mas eu não falei isso, professora’’, ‘’porque você está redondamente enganado…’’ e ela fez um put% discurso de quem não conhece a hipnose. Isso que eu fiquei put&.

TL: É o grande problema.

Porque um professor de psicanálise, que conhece a técnica, pode debater legal e dizer ‘’olha, não funciona por conta disso, quando você fala que regride é uma regressão diferente da psicanálise’’, legal.

TL: Argumentar, né?

RB: Isso, argumentar. Mas foi aquela porrada… Eu fiquei murcho, ‘’nossa o que eu fui falar…’’ e os alunos me olhando ‘’nossa, olha o ‘véião’ que veio encher o saco’’…

TL: ‘’Ó o tiozão ai’’.

RB: Beleza. Na aula seguinte dela, foi depois de uma semana, foi muito engraçado. Eu pensei ‘’deixa eu sentar lá no fundo já’’…

TL: Você foi vestido de Freud para agradar ela. Foi até com um charuto. ‘’Eu gosto do Freud. Paz!’’.

RB: Eu vou tomar dela até não poder mais. Ela vai corrigir minha prova com gosto.

Ela falou assim: ‘’Bom, pessoal espero que tenha visto livro ‘tal’ que eu pedi para vocês lerem. E foi muito interessante o que o nosso amigo pontuou na última aula, realmente como ele disse, não era a área de Freud, a hipnose. Muito utilizada, hoje em dia, por grandes profissionais, que no caso, não vamos usar aqui, mas muito legal você ter levantado essa questão’’. Pensei: ‘’Poooooo… Levantado essa questão? Eu tinha levado uma porrada’’.

Então, eu imagino que ela tenha ido falar com outras pessoas.

TL: Pelo menos ela foi atrás. Tem gente que não faz isso, não.

RB: E, por incrível que pareça, depois a gente ficou – não amigos – mas a gente se dava bem. A gente se curtia, digamos assim. Eu gostei daquela jovem senhora professora.

TL: Aquela jovem senhora de 277 anos.

RB: Eu falei isso porque normalmente é comum o psicólogo/psicanalista dar ‘porrada’ no hipnólogo. Agora vamos falar o contrário. Isso, aqui, quem está ouvindo a gente já sabe.

O hipnólogo que estuda, o hipnotista que faz, ele também dá ‘porrada’ no psicólogo.

TL: Ele dá ‘porrada’ do mesmo jeito que leva, sem argumento nenhum. O cara que fala que psicologia não presta para nada e trabalha com hipnose, esse cara não entende nada, nem de hipnose, nem de psicologia.

RB: Para quem tá ouvindo a gente, o argumento é esse: ‘’A hipnose é efetiva em uma sessão, em duas sessões – regressão de idade ou sugestão direta, sei lá o que – você resolve o problema do sujeito com hipnose. Na psicologia, você vai demorar três anos para resolver, na psicanálise uma vida e meia…’’.

TL: Mas são argumentos falaciosos também, porque as pessoas que geralmente falam ‘’ah, eu resolvo qualquer coisa em uma sessão’’ e acham que a hipnose é uma coisa milagrosa. Não é assim que funciona. Você não pode falar ‘’vou resolver qualquer coisa em uma/duas sessões’’. Beleza, muita coisa se resolve com certeza. Entendeu?

Agora, a questão não é tempo. A gente sabe que a hipnose acelera, é um catalisador de processos. Isso, sem dúvidas, a gente vê quem atende na clínica já percebe isso e as próprias pessoas que passaram pelo processo.

Eles falam que assim ‘’as técnicas da psicologia são lentas’’, ‘’as técnicas da hipnose são rápidas’’, na verdade, quando a gente para pra destrinchar as técnicas de hipnoterapia, percebe que a hipnoterapia não existe, não criou nada. Porque, se quando a gente fala de regressão de idade, por exemplo, a teoria por trás é Freud.

RB: Não é da hipnose.

TL: É Freud. Porque ele vai falar de memórias reprimidas, que os problemas estão na infância, no momento da castração, do édipo e toda aquela coisa da teoria psicanalítica e que a hipnose vai voltar, quando fala em regressão à causa, vai voltar geralmente em uma questão da primeira infância, onde normalmente estão os problemas. Então, isso é puramente psicanálise. Só que a psicanálise, pelo método da associação livre vai levar sessões, sessões e sessões – anos, anos e anos – para chegar naquilo.

Quando Freud fala que ele abandonou a hipnose, existem vários motivos para isso. Um deles é essa questão da habilidade. O Freud estudou a hipnose com o Charcot, primeiramente. Com o Bernheim, que tinha treta com o Charcot inclusive, que também era lá de Paris. O Charcot era do Hospital de Salpêtrière e o Bernheim da Escola de Nancy, as duas tinham pensamentos diferentes.

O Freud teve a ideia da Ab-reação, inclusive o termo foi proposto pelo Freud. As pessoas falam de Ab-reação da hipnose pra caramba ‘’ah, isso é um termo da hipnose’’. Isso é Freud, coleguinha. Isso é Freud!

Então o que acontece, ele não tinha conhecimento das técnicas que a gente tem hoje em dia. O Freud morreu em 1938. As técnicas do Dave Elman que a gente conhece hoje foram ensinadas, pela primeira vez, em 1949 com a Associação Médica dos Estados Unidos.

RB: Depois de onze anos da morte de Freud…

TL: Depois de onze anos que o Freud tinha morrido…

Então, quando o Dave Elman e o Milton Erickson nos Estados Unidos, estavam desenvolvendo as técnicas mais atuais de hipnose que a gente conhece, o Freud estava lá, senhorzinho com câncer de boca, porque ele fumava muito charuto. Na Alemanha ou na Áustria, não lembro exatamente onde ele morreu, ele estava na Europa. Então, ele morreu lá e não tinha um grupo de WhatsApp ‘’Hipnólogos famosos do mundo’’, em que o Dave Elman vai mandar uma mensagem ‘’Olha, Freud! Desenvolvi um negócio legal aqui. Estuda ai!’’. Não tinha essa comunicação rápida. Então, o Freud morreu sem saber quem era Dave Elman e Milton Erickson. Então, não tinha o que a gente sabe, o Freud não teve esse conhecimento. Ele não tinha habilidades/técnicas para executar a hipnose.

Quem já assistiu aquele documentário: ‘’Freud além da alma’’? Que aparece o Freud falando, ele parece um pato fanho falando. Ele tinha uma voz muito estranha. Então, você imagina um cara vai hipnotizar com uma voz bizarra e um bafo de charuto. Então, sabe, incômodo para as pessoas ser hipnotizado por ele. Isso diminuía a eficácia técnica da hipnose do Freud.

Esse é um dos motivos. Outro motivo…

O Freud falava que hipnose poderia causar memórias falsas. Como ele tratava muito a questão da infância, ele falava que o médico – como ele referia nos livros dele – chamava os psicanalistas de médicos… Ele poderia através do próprio achismo dele daquele caso, sugerir algo que viraria realidade para o paciente. Então, naquele tempo, tinha muito caso, por exemplo, de abuso sexual na infância.

Vamos supor que chega uma mulher, falando: ‘’ah, eu tenho um problema assim, assim e assim…’’, ‘’ah, com quem você foi criada?’’, ‘’fui criada por um tio meu’’, ai eu começava ‘’me fala mais sobre o seu tio’’, ‘’ah, meu tio ficava cuidando de mim quando eu estava sozinha em casa’’, ai o psicanalista pensava assim: ‘’Ah, eu acho que esse tio pode ter abusado dela’’, e o que ele fazia… ‘’Então, me conta mais sobre os momentos íntimos que você tinha com o seu tio’’. Às vezes aquilo nem existiu, mas pela paciente estar sob hipnose, começava a falar. ‘’Ah, tá. Então, seu tio chegou perto de você e começou a acariciar. O que aconteceu depois?’’. Ele dava uma sugestão e a pessoa começava…

RB: Indireta, sem querer…

TL: Sem querer, sem por maldade, mas ela achava aquilo e aquilo gerava memórias falsas. Ai a pessoa voltava do estado de transe, falando: ‘’Meu tio me estuprou’’ e isso gerava um problema gigantesco. Então, Freud falou que a hipnose pode causar isso.

Outro ponto que levou o Freud a abandonar a hipnose. Ele falava que a hipnose reduzia as resistências. Então, aqueles mecanismos de defesa, que até quem veio a falar mais detalhadamente sobre isso foi a filha dele, Ana. Ele falava que a hipnose reduzia essas resistências e elas eram fundamentais para o processo de análise. Então, o processo de transferência, contra transferência, aquela coisa do paciente chegar e falar ‘’você é um idiota. Eu não quero porque você é um bosta de terapeuta. Esse negócio não vai funcionar para mim’’.

Ele precisava disso para que a terapia da psicanálise funcionasse e até hoje é assim.

Pela hipnose baixar essas defesas, não era tão eficaz, porém o Freud voltou a falar de hipnose no final da vida. Ele disse que muita coisa do que ele falou foi, de certa, exagerado. Tudo isso no livro dele, chamado Construções em análise. O último livro lançado em 1976/77, se eu não me engano. Então ele voltou a falar de hipnose.

Então, o que acontece? Os hipnólogos desconhecem todos esses motivos, os psicanalistas idem. Quando, na faculdade de psicologia, a gente ouve falar de hipnose, estamos estudando a pré-história da psicanálise, que é quando Freud começou a estudar a hipnose com o Charcot, foi lá estudar as histéricas no hospital de Salpêtrière. O Freud aprendeu hipnose com o Charcot, passou um tempo usando, viu que não funcionava, deixou de lado e começou a criar a terapia pela fala. O Breuer também usava hipnose, eles desenvolveram a Associação Livre, um método catártico que o Breuer utilizava foi o primeiro passo para essa Associação Livre e a terapia pela fala e então, começa a falar de psicanálise. Eles não entram muito no detalhe da hipnose.

O Freud começou, viu que não funciona, jogou fora e criou a psicanálise.

RB: Quer dizer, muita gente pega essa lenha…

TL: Essa fala…

RB: E vira um todo.

TL: Na faculdade de psicologia, os estudantes escutam isso nos primeiros semestres, como você ouviu. Primeiro semestre, segundo semestre e eles estão ai ‘verdinhos’, são crus, não entendem nada de psicologia.

RB: E vira uma verdade até o fim da vida.

TL: Eu não conheço nada de psicologia, entrei agora e o professor já falou isso, logo, a hipnose não funciona. Isso acaba contaminando as pessoas que nem vão para a psicanálise. Porque a psicanálise é uma das abordagens do estudo da psicologia. Então, tem pessoas ai que vão para a Gestalt terapia, comportamental, humanista, mas carregam esse discurso que a professora (o) de psicanálise falou no começo da faculdade, e ele leva isso como um todo.

Você passa a faculdade inteira sem ouvir falar de hipnose. Os hipnólogos para descontar dizem ‘’ah, a psicologia não presta, a psicologia é lenta’’, sendo que não é bem assim.

Se você for olhar pro exemplo TCC, que é cognitiva comportamental. Por exemplo, a linha que eu estudo mais dentro da psicologia.

RB: Sua especialização foi na…?

TL: Cognitiva Comportamental.

RB: Dá uma explicação breve para quem nunca ouviu falar desse termo…

RB: Olha, se você quiser ouvir, ver e curtir um pouco mais de papo, aguarde o próximo BalCast para a segunda parte dessa entrevista.

Suas redes socias? Como o pessoal te acha?

TL: Ton Lucas me acha em tudo. Facebook, Instagram.

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SOBRE
RAFAEL BALTRESCA

Professor e palestrante desde 1999. Formado em Engenharia Eletrônica, iniciou sua carreira dando aulas de cálculo numérico e lógica de programação em escolas especializadas em reforço ao universitário.

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