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BalCast #15 – Consciência

Tempo de leitura: 12min

“A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta” – Blaise Pascal

Você sabe a diferença entre o homem e o animal? É fácil! Além das básicas, o animal tem um instinto hiper aguçado, as emoções do animal são hiper aguçadas. Então, 90% são instinto e emoção e 10% de raciocínio lógico.

O homem não; nós temos um raciocínio incrível! O nosso córtex é muito mais evoluído. O homem faz equações, consegue projetar prédios; o cachorro não, o gato não. O homem tem uma consciência muito mais elevada do que o animal!

Será?

Aconteceram comigo, recentemente, alguns fatos que trarei aqui hoje. São três “causos” que contarei rapidamente e que me fazem questionar por que falta tanta consciência no homem. O primeiro aconteceu há pouco tempo…

História #01

Certa vez, em algum lugar por aí, pude observar uma moça fumando no meio da calçada. Ela pegava o cigarro e jogava a bituca no chão. Bom, isso não acontece só aqui, né? Se você conhece algum fumante, sabe que a coisa mais normal do mundo é um fumante colocar a mão para fora do carro e jogar a cinza na rua, ou então pegar a bituca e jogar longe. É normal, algo que vemos quase sempre, mas nunca parei para perguntar para estas pessoas por que elas fazem isto.

Um dia, finalmente, eu parei uma pessoa e perguntei: “Amigo, me fala uma coisa… Por que você jogou a bituca do cigarro no chão e não jogou no lixo ou alguma coisa assim?” A resposta foi a coisa mais esdrúxula que eu já ouvi na face da Terra! Eu imaginei tudo, menos o que essa pessoa me respondeu. Ele olhou pra mim e falou: “não é sujeira, é bituca.”

Como assim não é sujeira??? Aquilo começou a martelar na minha cabeça e, hoje, eu faço algumas análises sobre isso. Essa pessoa, esse fumante, não é maligno, não é um cara que quer o mal da sociedade. Ele provavelmente não é uma pessoa que quer o mal para os seus filhos e que por isso vai estragar o meio ambiente, porque ele quer que tudo se exploda. Não! Ele é uma pessoa que simplesmente não tem a consciência de que aquilo, a bituca, é lixo. Eu não sou fumante, não estou falando isso para defendê-los, mas é uma análise crua de que a pessoa simplesmente não tem a consciência. O habito dela é tão forte, o que ela viu dos pais ao longo da vida e infância foi tão forte que ela simplesmente suja a cidade; ela faz com que a cidade seja algo imundo, mas não tem a consciência da coisa em si.

História #2

Em um tour pelo sul do Brasil, fui a um restaurante espanhol onde estava tendo um festival do camarão, cujo preço era 50 e poucos reais por pessoa e você podia comer à vontade. Entrei no restaurante e o garçom falou para mim:

      _Funciona assim: eu te trago 7 pratos e você come à vontade. E, no final, você pode pedir mais quantas vezes você quiser.

Eu estava sozinho, a trabalho, sentei e lhe pedi para me trazer pratos pequenos, em porções menores, porque achei que 7 pratos seriam muita coisa pra mim. Ele respondeu que eu poderia ficar tranquilo, pois os “pratinhos” já eram pequenos.

De repente, ele me chega com os pratos: cada um, para você ter uma ideia, devia ter mais ou menos uns 300g! Tinha camarão na moranga, bobó de camarão, camarão ao alho e óleo, com páprica, empanado, com arroz e com macarrão. Sete pratos de 300g cada da 2,1kg!! Meu amigo… pra que 2kg de comida??? Tu tens que ser bruto!!

Eu olhei para aquele monte de camarão (tinha pedido uma latinha de tônica também) e pensei “vamos lá, vamos aos poucos”. Comecei e… Olha, eu não sou bruto para comer, mas eu até como bem. Só sei que, depois de uns 40min, indo na manha, aos pouquinhos, eu estava com camarão até o cérebro e eu tinha comido mais ou menos 1kg de comida, ou 1,5kg, sei lá! Ou seja, ficou ainda 1kg ali… pra ser jogado fora.

Na hora, eu fiz uma continha rápida: imagine que 50 pessoas comam, por dia, no almoço e no jantar delas, o mesmo 1kg de comida.

50 pessoas x 1kg = 50kg de comida x 30 dias = 1t por mês

1t x 12 meses = 12t de comida por ano!

Eu posso estar exagerando, mas que sejam 5 toneladas de comida jogadas fora…

Bom, quando fui pagar a conta, perguntei para o dono do restaurante o que eles faziam com a comida não consumida, com o que jogam fora, com o que ficou no meu prato. Ele deve ter imaginado que eu era algum fiscal ou vigia por estar bem vestido e ficado com medo porque falou: “Não, a gente não joga fora, imagina! O que você comeu está limpinho, a gente manda pra outra mesa.”

Aí que eu fiquei mais doido! Eu falei: “Como é que é? O que eu não comi você vai mandar pra outra mesa?” Ele ainda confirmou! “É, com certeza, porque aqui não tem desperdício…” Piorou, né? Se eu fosse fiscal então…  Eu estava indignado: “o que eu comi veio de outra mesa??” Ele se embananou completamente e falou que não, que no meu caso era diferente, que eles não me dariam o que veio de outra mesa… “A gente só dá pra outra mesa o que vem de você”. 

Bom, quando olhei para o lado, o garçom já estava empilhando os pratos e misturou catchup com o guardanapo, com prato… Resumo da história: não dão a minha comida para outra mesa coisa nenhuma! Primeiro que isso seria de uma higiene terrível, imagine! A pessoa espirrou no prato e isso vai para o outro lado. Eles não fazem isso. Segundo que, obviamente, aquilo tudo foi para o lixo. Nós estamos falando de 5 toneladas-ano só deste restaurante jogadas no lixo. Multiplique isso pelo número de restaurantes que há no Brasil todo…

Pra gente fazer uma ideia do que as pessoas jogam fora: é muito normal em São Paulo, onde eu vivo, chegar a um self service de shopping, onde você pega sua comida à vontade, às 21h30, e ele estar lotado ainda de comida. O shopping fecha às 22h e, neste horário, às 21h30, eles ainda estão repondo comida e continuam repondo e repondo…

Pergunto: cadê a consciência? Eu não sei, mas parece que a gente só vai se tocar disso quando começar a doer; a gente só vai fazer algo quando nossa consciência começar a apitar. É normal os donos de restaurantes deixarem a comida à vontade, darem mais do que é necessário. E é raro também as pessoas pedirem um prato para ser dividido em dois, mesmo sabendo (e a gente sabe disso) que as porções do Brasil são gigantes. A gente prefere pedir um prato para cada um e deixar meio quilo ou um quilo de comida para ser jogada fora a pedir um único prato para duas pessoas e dividi-lo. No final, você pode pegar mais uma salada ou mais uma entrada e já está legal, tranquilo… Come uma sobremesa e não desperdiça nada.

Onde está a consciência do brasileiro? Do que a gente precisa para mudar? Se você notar, existe uma fórmula para nos tornarmos mais conscientes das coisas: é repensando o óbvio, o básico. É fazer uma coisa que o cachorro não faz! Ele não consegue olhar para o que ele faz todos os dias como, por exemplo, pensar “estou fazendo cocô todos os dias, aqui na frente de casa e isso está pre
judicando o meu dono que chega de manhã”. O cachorro não consegue fazer isso, mas a gente consegue. Uma forma de expandir a nossa consciência, trazer à tona essas questões é justamente repensando o básico, o óbvio, é fazer com que isso se torne o corriqueiro. Então, é você olhar para o básico, o tomar banho, lavar as mãos, almoçar, ou como trata os clientes, como você vende o seu produto… repensar o que pra você é normal. Isso a gente aprende com as crianças, que ficam o tempo todo perguntando “por quê?”.

Nós, adultos, temos que descer do salto, deixarmos de ser arrogantes, para sermos humildes o suficiente e dizer “eu não sei tudo e vou repensar o que eu já faço, o que eu acho normal.” À medida que a gente repensa, começamos a ver a bituca diferente, entendendo que aquilo é lixo sim e que estamos sujando a cidade.

Se eu fosse um governante, colocaria uma lei ou algo do tipo, uma multa (e grande) para o nível de comida que é desperdiçada, para que seja mais cara. Quando dói no bolso, o negócio começa a ser repensado. Se eu fosse, então, um governante, eu estabeleceria porções mínimas de comida, pois assim você poderia pedir meia porção, um terço, e não ser cobrado a mais por isso. No Brasil, se uma pizza custa R$70,00 e você pede metade, eles não te cobram metade do valor, cobram, por exemplo, 70%, justamente pra você não encher o saco e já pedir o todo, completo. Porque pedir metade da trabalho, né? Mas eu colocaria uma lei onde seria obrigatório vender metade e um terço.

Se você é um dono de negócio vai pensar que sou chato, mas não é questão de ser chato e sim que, o dia em que acabar a comida, todos serão prejudicados. Nós que comemos e vocês que vendem também.

Pra terminar, para falarmos de consciência, o que a criança exercita tão bem, eu fico pensando na pescaria…

História #3

Eu pesquei a vida inteira. O meu  avô me levava pra pescar, o meu pai me levava, pra mim era normal pescar. Até o dia em que eu repensei o óbvio, o básico e questionei: o que é pescar? Quando eu repensei, parei imediatamente. Porque a curtição para quem pesca  não é levar todos os peixes para casa, mesmo porque tem lugares em que você não pode fazer isso. Tem aqueles pesque e pague, tem o pague e pegue….

Bom, qual era a minha diversão: pescar os peixinhos, devolver tudo e ir para casa; às vezes com um ou dois, no máximo. Comecei a repensar o que é pescar? Pescar é você colocar uma linha dentro da água com uma isca, esperar que o peixe morda e então você rasga a boquinha do peixe. Às vezes vinha um peixe fisgado até pelo olho. Que diversão, né? Pegar um monte de peixes, rasgar a boca deles, não para o seu sustento, não que você precise comê-lo, mas por diversão. E por diversão a gente faz um monte de peixinhos mutilados. A gente cega peixes, mata peixes e rasga a boquinha deles simplesmente para o nosso bel prazer, para o nosso sossego, afinal pescar é tão tranquilo…

Está na hora de você repensar, de a sociedade repensar o básico, o óbvio, porque, dessa forma, a gente traz nossas ações para a consciência e fazemos aquilo que os outros animais não conseguem, né? Nós evoluímos de uma forma consciente, evoluímos como gente.

Vale a pena, também, em seu negócio repensar o jeito como você atende, o produto que você vende, repensar o seu dia-a-dia, porque fazendo isso você evolui na sua empresa igualmente.

Da próxima vez em que você for a um restaurante, peça um prato para dividir em dois, você vai ver que legal. Dá para dois sim! E se não der, você pega mais um pratinho só para forrar.

“A consciência é a faculdade que o homem tem de contemplar quanto se passa no seu íntimo, assistir à própria existência, ser, por assim dizer, espectador de si próprio.” – François Guizot

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SOBRE
RAFAEL BALTRESCA

Professor e palestrante desde 1999. Formado em Engenharia Eletrônica, iniciou sua carreira dando aulas de cálculo numérico e lógica de programação em escolas especializadas em reforço ao universitário.

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