Ele retruca dizendo que sempre escuta isso dos viajantes. Normal.
Quase no mesmo instante, o vidro do carro ao lado desce, um braço peludo sai e uma bituca de cigarro é lançada ao chão.
Porco! Mal educado! Nojento! Ah, que vontade de gritar tudo isso e muito mais. Onde já se viu? Na sua própria cidade, a extensão da sua casa.
Tá bom, tá bom… essa é reação que muitos de nós teríamos, mas, guardemos nossos instintos e lancemos mão de nossa consciência para analisar este fato.
É difícil acreditar que alguém abriria a janela do carro com a intenção de sujar o mundo. Jogar o lixo no lixo do carro seria muito menos trabalhoso do que atirá-lo à rua. Se não é preguiça, o que é então?
Não tenho dúvida que seja o poder do hábito. Um hábito que nos hipnotiza. Que nos paraliza e nos impede de discernir o que é certo do que é errado.
Hipnotizados pelo hábito, bituca de cigarro não é lixo. É bituca. E, na mente de quem faz isso há muito tempo, há uma espécie de desconexão da bituca com o lixo. Como se, também, a rua fosse feita para isso mesmo. Rua é rua. E o lixo é limpado automaticamente.. sei lá.
Todo hábito cega. O mesmo hábito que te faz prender o cachorro em uma corrente por horas ao lado do portão. O mesmo hábito que te faz humilhar sua esposa sem remorso, sem dor na consciência. Normal. Sempre foi assim. Por que seria diferente?
Não tiro a culpa daquele motorista. Claro que não. Mas compreendo que esse comportamento é praticamente invisível para o condutor que falava ao celular, enquanto sujava a rua bonita. Hábito também.
Malditos e benditos hábitos. Benditos quando é hábito dar bom dia pra gente mais pobre que você, porque virou hábito enxergá-las como pessoas. Culpa da sua mãe que tinha o mesmo hábito. Maldito quando o fim deteriora alguma coisa. A sociedade, o planeta, o cachorro, você.
Solução? Trazer à consciência o maior número de ações habituais, perguntando alguns “por quê?” e outros “por que não?”.
Estou certo de que para algumas pessoas, este texto não mudará nada em suas vidas. Afinal, o que fazem já virou hábito.
Ainda bem que existem as outras que permitem-se mudar; por força do hábito, claro.