Você tem nas mãos um veneno enlatado que deve ser descartado, urgente.
Antes que seja absorvido pelo seu corpo ou, pior, pela sua mente.
Escrevo este texto feliz, porque pela primeira vez me sinto no controle, dono do meu próprio nariz.
Lembra quando você arrumou o penteado, passou batom, deu uma falseada no humor, só para sair bem no Instagram?
Pra mim, Instagram deveria se chamar Estragão. Porque é isso que ele faz com a sua essência, sua verdade e seu tempo.
Te manda para um mundo imaginário, onde só tem gente rica, bonita e feliz e faz um estragão na sua auto-estima, essa importante força-motriz.
Aquelas timelines infinitas, stories e mentiras bonitas fazem um estragão no seu momento. E aí, já tá reconhecendo quem é dono do seu tempo?
E os muitos minutos perdidos do seu precioso dia lendo brigas, intrigas no facebook e redes sociais que você nem se lembra mais?
Quantas vezes o seu coração, digo, o seu WhatsApp pulsa por minuto?
Aquele pisca-pisca de luz verde inquieto traz a constante angústia de trabalho incompleto.
Quantos grupos, amigos e desconhecidos te entopem de mensagens e entorpem seu trabalho, sua linha de raciocínio, seu brilho, um momento com seus pais, um instante com seu filho?
Não precisa mentir, não tem ninguém aí do seu lado de dentro. Responda com o pensamento:
Você já notou como abre o aplicativo, rola e fecha novamente…. automaticamente? Sem pensar? Sem pestanejar?
Tá bom, eu sei que pareço um bundão do século passado, mas veja só como você pode estar hipnotizado: te conto um conto que me deixou chocado.
Num shopping aqui perto, um moço de meia idade, clicava no Instagram freneticamente, parecendo um zumbi. Sobre isso, tudo bem. Zumbi é o que mais tem por aqui. Pessoas andando com a cabeça baixa e teclando, clicando enquanto a vida passa. The walking dead já não é mais ficção. Olhe para o lado agora e veja que tenho razão.
Bom, voltando ao zumbi do shopping, no momento em que alguém presente, que sentia o pai ausente, clama por sua atenção, ele vira o rosto para a esquerda, muda o foco e, conversando com o pequeno, continua clicando na foto… automaticamente, sem olhar, pensar ou prestar atenção.
Fico aqui me perguntando: Por que raios estamos jogando a vida ao vento permitindo que as redes anti-sociais tomem conta de um bem que é impossível de recuperar: o tempo?
E repito: redes anti-sociais. Afinal, o que tem de social algo que, no elevador, faz a moça olhar para baixo e ficar brava quando alguém lhe dirige a palavra? Não permitimos alguém nos tocar… a vida tem que ser balisada na tela quadrada de um celular. São bebês de 3 meses com o Ipad na fuça durante o jantar.
Ei, pai. ei, mãe… não aguento mais! Quem quer crescer sem o afeto constante dos pais? Que lixo é esse de sociedade cibernética movida a curtidas, compartilhamentos e comentários banais?
Com tantos motivos, decidi provar que a minha mente é bem mais forte que meros aplicativos. E fiz isso sozinho, sem criar alarde. Criei dois horários fixos: 9 da manhã e 4 da tarde. Abro a única rede que sobrou instalada, vejo se tem algo importante ou se é tudo cilada. Então, uso o resto do meu tempo com relações verdadeiras e conexões reais. Ligo ao invés de tuítar e vivo ao vivo e não pelo celular.
Notei um crescimento absurdo em minha produtividade e, de quebra, ganhei tempo para as pessoas de verdade. E que este texto não passe despercebido, sem ser ouvido. Passe para seus amigos que terceirizam a educação de seus filhos a uma tela brilhante de vidro. E aos pares pseudo-apaixonados que durante o jantar, sem saborear o momento e nem o prato principal, comungam luzes no rosto ao invés de olho no olho e uma relação normal.
Acredite: um dia sem celular não vai te matar, mas o viver conectado é veneno enlatado que vai te pegar.
Não permita que, como um dispositivo fora da tomada, a sua vida também seja desconectada.
– Rafael Baltresca