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Inteligente uma ova!

Há 3 semanas parei de ler um livro. Isso mesmo, parei pela metade. O livro se chama Mindset, da ph.D. em psicologia social Carol S. Dweck.

Durante as primeiras 150 páginas, até onde eu pude aguentar, pensei em parar umas 5 vezes. E não tomava uma atitude, pois pensava assim: “Como? Não vou conseguir ler um livro até o final? Quantas pessoas no mundo já leram este best-seller de cabo a rabo e não reclamaram? Que fracote sou… vá lá.. continue… termine logo com isso!”. Depois de muitos ensaios, desisti. Fechei e coloquei-o em um lugar bem escondido para que sua capa colorida não ficasse me lembrando da minha derrota livrística (!). E por mais que pareça controverso, este é um livro que indicaria a qualquer um. Você não me entendeu mal. Neste livro há uma das maiores preciosidades comportamentais que já aprendi na vida.

O motivo que me fez parar é simples: após a autora explicar brilhantemente os dois tipos de Mindset, ela começou a surfar em exemplos infindáveis sobre pessoas, times, nações e organizações que se beneficiaram ou se afundaram por conta desses modelos mentais.

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Bom, depois voltamos à minha saga interrompida de leitura. Vamos falar do coração do livro: O Mindset.

Esta palavrinha que está na moda, por mais que pareça super cult/intelectual, tem um significado muito simples: Mindset é a forma que você gerencia seu mundo, suas percepções, seus desafios. É um “jeitão” que a sua mente se comporta. Só isso.

Quer um exemplo rápido? Uma menina de 15 anos chamada M1 pensa que é super possível começar a estudar matemática e reverter suas notas baixas. Outra menina, no outro canto da classe, chamada M2, pensa que “não nasceu para matemática” e tem certeza de que por mais que estude, nunca vai ser boa nesta matéria dos infernos. Viu só? M1 e M2 têm notas baixas, estudam juntas, mas as duas têm um jeito de pensar completamente diferente, ou, em outras palavras, 2 mindsets opostos.

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No livro, a autora pontua os seguintes tipos de mindset: Mindset fixo x Mindset de crescimento.

Pessoas com mindset fixo, tendem a pensar da seguinte forma: “não fui feito para isso”, “nunca vou aprender a tocar um instrumento”, “não tenho a capacidade que os meus amigos têm” etc. Até aí, nada de novo. Você entende bem que essas frases nem te deixam começar; já te derrotam na linha de largada. O que pouca gente enxerga é que frases como “sou muito inteligente”, “sou o melhor da classe em oratória”, “sou e sempre fui um líder genial” têm o mesmo peso negativo das frases acima. Pois é… o MESMO peso negativo e de fracasso. Como? Eu te explico.

Segundo o livro, pessoas que se intitulam “gênios”, “inteligentes”, “incríveis”, “muito bons” em qualquer coisa, tendem a querer a levar este “troféu” psicológico consigo e, por puro medo de falharem, acabam nem tentando. Lembro-me de minha juventude. Eu cresci ouvindo de meus pais que era muito bom em matemática. Em qualquer roda de amigos, ouvia meu pai dizendo que “meu filho é um crânio em matemática e ciências exatas”.

Por um lado, ele estava certo. Minhas notas eram ótimas e eu tinha prazer em sentar para fazer contas. O que meu pai não percebia é que deixei de levantar a mão para perguntar para meus professores inúmeras vezes, pois tinha que “manter a pose” de ser muito bom em matemática. “Vai que eu faço uma pergunta estúpida e eles não acreditem mais que eu sou inteligente?”; além disso, “Se eu perguntar, eu mesmo não vou parecer tão inteligente para mim”. Resultado: parei de perguntar, parei de me desenvolver e, consequentemente, parei de aprender. Troquei a oportunidade de alavancar meu conhecimento apenas para não “decepcionar meus pais e a mim mesmo”. E este processo, por mais que pareça óbvio agora, sempre foi velado e inconsciente.

Lembro-me também de um amigo mágico que, após ganhar uma difícil competição, simplesmente parou de competir. Ele dizia assim: “Já ganhei. Não preciso provar nada para mais ninguém. Correr risco para quê? Vai que eu perco… e a minha reputação?”. Bom, ele também tinha um mindset fixo no “perfeito” que o tirou de outras competições e, de novos aprendizados e conquistas.

700-01695221 © Noel Hendrickson Model Release: Yes Property Release: Yes Model & Property Release Portrait of Man Holding Trophy

Estes são exemplos de como mindsets fixos podem acabar com a vida de uma pessoa.

Do outro lado, há o MINDSET de CRESCIMENTO. É a crença de que o esforço nos trouxe até aqui e não a superinteligência. É se divertir em errar, em perder. É ter a certeza absoluta que a vida é uma constante evolução e que também são nossas aptidões, conhecimentos e conquistas.

Hoje, vejo com clareza como é cruel dizer a uma criança: “Você é muito inteligente!”. Fico imaginando esta criança tentando provar – durante uma vida inteira – para si e para os outros como é inteligente…. e deixando de fazer um monte de coisas para não errar. Preste atenção: o problema não está no elogio. Pelo contrário! Elogiar uma atitude, um comportamento adequado é necessário e primordial no desenvolvimento humano. O problema é o elogio que embute um mindset fixo, como por exemplo “você É inteligente” ou “você É INCRÍVEL no que faz” ou “você É um ótimo desenhista” ou qualquer tipo certeza fixa. O egoísmo de uma autoimagem traz uma arrogância que, mais cedo ou mais tarde, sabotará o desenvolvimento. de qualquer um.

Creio que é muito mais adequado um elogio assim: “Parabéns… ficou lindo! Isto mostra como você é ESFORÇADO e tem uma capacidade incrível em experimentar, errar e aprender. Continue sendo esta pessoa ESFORÇADA que você é.” Viu só? O esforço não tem prazo de validade. Alguém pode se esforçar no começo, meio ou fim de carreira. Você pode se esforçar enquanto é um aprendiz ou quando é mestre. O esforço só te leva ao aprendizado e, caso você perca, tudo bem. O que você pode fazer para melhorar da próxima vez? Com um mindset de crescimento, o esforço te leva à evolução.

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Agora eu entendo porque demorei tanto para parar de ler um livro que não estava “descendo”. Porque o meu mindset FIXO estava me guiando à preferência de continuar fazendo algo que não me dava prazer do que mandar esse livro para as cucuias e parecer incompetente.

Quer saber? Não sou e nunca fui inteligente em nada. Não tenho nenhum parafuso a mais. E nenhuma aptidão herdada também. Meu pai nunca viu minhas horas e horas de equações erradas para aprender a fazer certo. Ninguém nunca me viu gaguejar igual a um potro com soluço na frente de uma sala com 20 alunos para aprender a fazer palestras. Ninguém me viu treinar durante décadas para ser como sou. Inteligente uma ova! Foi com esforço que eu cheguei até aqui… e eu sigo errando e errando e errando. E sabe de uma coisa? Esse negócio de aprender a encarar os meus erros dá um prazer lascado. E tira um peso das costas que você nem imagina.

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SOBRE
RAFAEL BALTRESCA

Professor e palestrante desde 1999. Formado em Engenharia Eletrônica, iniciou sua carreira dando aulas de cálculo numérico e lógica de programação em escolas especializadas em reforço ao universitário.

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