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BalCast #25 – Respeito

Tempo de leitura: 13min

A entrevista que você acompanhará hoje foi gravada em vídeo e transmitida pelo meu canal do YouTube. Neste bate-papo com meu recém-amigo Paulo Amorim, falei sobre RESPEITO.

Inicialmente, pedi para o Paulo se apresentar e explicar por que pensou que este seria um tema relevante para tratarmos no BalCast. Acompanhe a entrevista…

PA: Meu nome é Paulo Amorim, tenho 34 anos no momento e escolhi falar sobre respeito porque estamos em um momento onde o mundo está tão conectado que conseguimos ver o que acontece em todos os cantos. E o que mais vemos, na verdade, é o que eu considero falta de respeito. Mas o que é respeito para início de conversa, certo?

RB: Acho que quando falamos em respeito não é apenas do respeito para com outra pessoa, mas também do respeito com o meio-ambiente, com as leis, porque nós temos algumas leis e, se vivemos em sociedade, de alguma forma concordamos com elas. Tem dois tipos de respeito sobre os quais acho que você falará depois: um mais autoritário e um mais natural. Primeiro, quero falar o que aconteceu comigo estes dias…

Eu estava indo buscar o meu cachorro e vi um rapaz com uma latinha de cerveja na mão. Ele jogou a latinha na rua e na minha frente, pisou-a, como se fosse adiantar alguma coisa, e deixou lá. Eu (que sou meio bocudo) falei: “Ô amigo… a latinha!” Ele olhou pra mim e disse (juro!): “Tô vendo…” Falei ainda: “No lixo, né?” Aí ele respondeu: “Não, não… aqui é tranquilo. Os lixeiros passam depois.”

Por que será que as pessoas perdem o respeito com as leis externas e só respeitam suas próprias leis internas? Porque acaba sendo apenas um respeito para com ele mesmo e com o que ele acha certo!  De onde vem isso? Da sociedade?

PA: Bom, não sou um especialista no assunto, mas as leis, até onde consigo perceber, são feitas para tentarem manter esse respeito de uma pessoa por outra. Não dá para generalizarmos porque sempre tem as que não são feitas para isso, mas, por exemplo, porque precisamos de uma lei para não jogarmos lixo na rua? Por que você precisa de uma lei para não correr no trânsito? Será que vamos precisar de uma lei para não furarmos uma fila, não tirarmos dinheiro do povo? Por que precisamos de lei para isso? É exatamente este o ponto: não deveríamos precisar de leis para essas coisas. Se você se coloca na situação do próximo… e tem aquilo de “vamos respeitar o próximo”, mas que é o próximo? Você é o próximo! Você mesmo quando está agindo é o próximo. Quando joga um lixo na rua, é a sua rua também.

RB: Então, mas isso esbarra no conceito de ética, né? Eu vi uma vez um professor falando e ele fez a explicação mais simples de ética, porque muita gente tenta misturar moral com ética. Ele fala o seguinte: a moral tem a ver com a região em que você está e o tempo em que você vive. A ética não! Ela sobrepõe tempo, espaço e tudo. Na visão dele, olha que simples, ética é fazer algo que seja bom pra você, para os outros e para todo mundo. Quando você faz algo que delimita, quer dizer, que é só bom para uns ou outros, já não funciona mais. Estamos falando de algo que tem a ver com respeito. Então, talvez o respeito seria algo tipo “repensar o óbvio”.

PA: Eu penso que é colocar-se na posição do outro ou tentar prestar mais atenção para a consequência que aquilo que você está fazendo vai gerar. Porque é um jeito de se colocar no lugar de quem você está afetando com aquilo.

RB: Mas é difícil se colocar no lugar do outro, né? Parece simples, mas não…

PA: Claro que não conseguimos isso 100%, mas têm coisas que são muito óbvias. Por exemplo, você jogar um lixo na rua… O cara faz aquilo e acha que é tranquilo, mas pode passar uma senhorinha ali num andador e escorregar naquela latinha e se machucar.

RB: Eu vou fazer o advogado do diabo… Sou um defensor da sustentabilidade, mas me parece que existe uma impossibilidade, uma incapacidade de a pessoa se colocar no lugar do outro. É como se a gente falasse assim “coloque estes óculos azuis” e a pessoa vive desde o nascimento até os 25 anos usando um óculos com lentes azuis. Um dia a gente fala pra ela: “Cara, pense vermelho, pense verde, abra sua mente, coloque-se na cabeça de uma pessoa que veste um óculos amarelo…” Não defendendo, mas me parece que existe uma coisa antes do respeito… não sei o que. Talvez uma educação coletiva?

PA: Uma herança cultural, talvez, de que isso não tem problema? Porque você percebe (e é verdade) que em alguns lugares as coisas são mais organizadas, tendem a se manter mais organizadas. Quando a pessoa está num ambiente onde ela vê isso acontecendo, por exemplo, este cara que jogou a latinha na rua, as pessoas que fumam e jogam bituca no chão, exemplo que você gosta de falar e eu reparo isso direto, elas começaram a fumar vendo as outras pessoas fazendo aquilo. Eu acho que vem de base, do cultural… vem não da experiência, mas das referências que a pessoa tem do que está acontecendo.

RB: As leis estão aí um pouco para remediar, né? Porque concordo com você quando diz que existe uma educação, uma herança cultural, não tem o porquê de você ter uma lei ceifando isso, ou uma lei coibindo, né? Quando vem de berço está tudo bem. Eu estava falando com um amigo meu que viveu um tempo na Austrália e ele estava me contando como as coisas são lá, especialmente em Sidney, e é incrível. Você vê banheiros públicos limpos. Aqui no brasil, o público é sinônimo de sujo, de lixo, concorda? Se eu falo pra você que vai ter um curso gratuito da prefeitura, não deve ser bom, não é verdade? Ou para ir no banheiro público se estiver com vontade de fazer xixi… “Cuidado para não pegar uma doença!” Que triste que chegamos num momento aqui no brasil em que raras cidades fujam disso… Talvez Curitiba fuja um pouco e fui pra lá algumas vezes, Brasília tem alguns lugares interessantes, mas sou de SP e já viajei pelo Brasil todo. O básico é você falar “se é público, é um lixo”. Tem tudo a ver com a cultura, uma coisa que vem lá de trás.

Qual a solução de tudo isso, hein? Porque colocar-se no lugar do outro quando você nunca viveu o que este outro vive é difícil. O cara da bituca, por exemplo, viu o pai fazendo isso, a mãe, o irmão fazendo isso e pensa “vamos jogar bituca no chão e está certo”.

PA: Eu concordo, mas acho que pelo menos o ponto de partida é levantar essa bandeira para ver se as pessoas começam a pensar sobre isso. Porque é óbvio que o cara que nasceu e cresceu com essa referência não está vendo isso, não enxerga. É uma questão de percepção do que está acontecendo mesmo. É a mesma coisa do cara que acha que é normal correr. Muita gente (e não defendendo multas de trânsito) bota a culpa na multa quando na verdade ele é que está fazendo a coisa errada. Muita gente reclama do cara que está furando a fila quando ele também está furando a fila. Quando você para pra pensar (imagino eu que seja um jeito de começar isso) e perceber o que você está fazendo, qual é o seu impacto nas pessoas ao seu redor…

RB: É o exercício de repensar o óbv
io, né? Porque estamos tão mecanizados, o adulto principalmente! Ele se acha já o dono da verdade, acha que sabe de tudo, ele viveu tudo, então sabe o que está certo e o que está errado. E a criança, é exatamente o oposto disso, né? Ela fica mais “e se….” e um carrinho acaba virando uma astronave, um pedaço de papel acaba virando uma tela de pintura… Esse repensar do óbvio é que falta na gente: “o que eu estou fazendo, “por que” e “o que eu poderia fazer de diferente disso”. Faz sentido?

PA: Pra mim faz completo sentido e também “o que eu poderia fazer não pra ajudar, mas para criar um ambiente melhor que vai te afetar”. Estamos falando sobre respeitar em um sentido bem amplo e genérico. Tem aquela coisa meio plastificada de que você tem que respeitar aquela pessoa específica, né? Quem você deve respeitar: os mais velhos, a autoridade, o seu chefe… Mas porque só essas pessoas? Isso acaba gerando uma ideia de que você deve respeito, mas não merece respeito.

RB: Acho que essa é a diferença entre autoridade e autoritarismo. Autoridade acho que é o que você cria, você ganha, as pessoas te respeitam porque gostam e querem que você esteja com elas. O autoritarismo é “respeite-me porque sou seu chefe”. Multa é um tipo de autoritarismo, né? Respeite a velocidade senão…

PA: Todas as leis, o governo, acho eu, são feitos em cima do autoritarismo. Mas porque ele existe, porque são geradas essas multas? Algumas multas são totalmente discutíveis no sentido de serem úteis ou não, mas outras são para controle, para colocar uma ordem exatamente pela falta da autoanalise das pessoas sobre o que está acontecendo.

RB: Exatamente! Se tivesse uma cultura de respeito e honestidade, uma cultura de ética, uma cultura forte, sustentável… eu gosto dessa palavra “sustentável”, mas infelizmente ela já caiu na boca do povão e virou marca de sabonete que você pode comprar porque é sustentável e não agride o meio-ambiente. Mas não é isso. Sustentabilidade é você sustentar, ter daqui 100 anos um país melhor, uma sociedade melhor ou no mínimo igual. Isso que é algo sustentável, ne? Algo que não se sustenta, daqui um tempo, quebra. E quando a gente fala sobre cultura e educação, pra mim vai completamente em outro rumo da multa, da punição.

Aconteceu, não sei se na Alemanha e não sei se você viu isso antes, um semáforo ao contrário. Eles não te multam quando você passa acima da velocidade, mas, quando você passa abaixo ou na velocidade, aparece um joinha…  Interessante isso. Você não acha que seria interessante também ter no governo pessoas que pensem “comportamental”, uma área relacionada à Psicologia? Parece que falta um pouco disso, não?

PA: Com certeza! Eu, pelo menos, não vejo acontecer nada partindo do governo que estimule essas áreas e comportamentos de forma boa. Você tem ações geralmente feitas por ONG que levam as pessoas a plantarem árvores, cuidarem delas, de animais, e ver como aquilo resulta em alguma coisa, que é exatamente pelo reforço positivo, pela pessoa ver o que a ação dela está gerando…

RB: É que isso não gera imposto… não gera faturamento.

PA: Quando você para e ajuda alguém a atravessar a rua, para na faixa para alguém atravessar, quando você respeita, qual é a sua recompensa por isso?

RB: Acho que é uma recompensa psicológica de sentir-se parte de tudo isso. Mas o que você falou é interessante de o governo querer ou não querer. Eu já tomei várias multas de radar, principalmente agora que em São Paulo eles diminuíram a velocidade e o que era 70km/h virou 50 km/h, o que era 50 km/h virou 40km/h, está uma loucura! Então, quem estava acostumado a andar a 70km/h… toma multa o tempo todo. Eu não sinto que a multa previna que eu tome outras multas, sabe? Não sinto que meu comportamento esteja mudando por conta disso, eu sou um ferrenho defensor da ideia de que não existe alguém no nosso governo pensando para que melhoremos a nossa atitude e nosso comportamento. Parece que eles promovem ações que gerem mais lucros para eles.

PA: E a forma de controle é completamente punitiva, né?

RB: Completamente e isso já é mais do que comprovado.

PA: Você dá a multa, mas não reduz, por exemplo, o IPVA do cara que não tomou nenhuma multa.

Um ponto interessante para refletirmos, não? Este exemplo do Paulo levou-nos a pensar e a discutir sobre reforço comportamental, sobre questões da Psicologia e outras tantas ideias super bacanas que você poderá conferir na íntegra ouvindo o nosso podcast ou clicando no player que está logo no topo da página para assistir à entrevista em vídeo!! 

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SOBRE
RAFAEL BALTRESCA

Professor e palestrante desde 1999. Formado em Engenharia Eletrônica, iniciou sua carreira dando aulas de cálculo numérico e lógica de programação em escolas especializadas em reforço ao universitário.

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