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BalCast #18 – Ser pai

Tempo de leitura: 12min

“A paternidade é, sem contrapartida, uma missão; é ao mesmo tempo um dever muito grande e que obriga, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade pelo futuro.”  – Allan Kardec

Não sei se você sabe, mas eu ainda não tenho filhos e gostaria muito de ter. Estou inclusive naquela fase, com minha mulher, de “fabricar”. Ficamos pensando se vai ser este ano… se será no ano que vem… O fato é que nossos pensamentos agora estão altamente voltados para a paternidade. Bom, é natural que a gente comece a olhar mais para crianças e pais no sentido de analisar o que estão dizendo, fazendo. Estamos com a mente e com os olhos voltados justamente para isso.

Certa vez, aconteceu uma coisa interessante em um hotel onde eu estava hospedado a trabalho com minha esposa. Estávamos juntos na piscina e notamos a presença de um casal que, pela conversa, sacamos que estava separado, não morava mais junto. Com eles, estava também uma criança, um filho de aproximadamente 10 ou 11 anos.

Interessante que o moleque não estava nem aí para o pai, não queria ficar perto, estava sempre com a mãe. E havia uma pressão da parte dela para o menino ficar com o pai! Ela dizia: “Vai lá, fique com o seu pai um pouco. Larga do meu pé, menino… Vai lá ficar com ele.” Do outro lado, porém, estava este pai com uma cervejinha, ipad na mão, e simplesmente nem aí para a criança.

Acompanhando o diálogo dos três, ouvi algumas frases no mínimo curiosas e sintetizei três momentos desta família para fazermos um brainstorming sobre isso:

1ª) Mãe para o filho: “Você tem ideia de quanto o seu pai gasta para ficar com você neste hotel? Ele pegou avião, gastou dinheiro com hotel, com a sua hospedagem, com a dele, gastou com táxi, com comida… Depois vou colocar num papel pra você ver e fazer as contas do gasto que você dá quando seu pai vem te visitar”. Isso já deixou a mim e a minha mulher em choque! Mas depois a gente conversa sobre isso…

2ª) Pai para o filho: “Pare de fazer bagunça, moleque! Você já não tem tudo o que você quer? Já não te demos de tudo? O que mais você quer, o que está te faltando? Você já tem um monte de brinquedos, Playstation, ipad… O que tá faltando? Fica quieto um pouco.” Em seguida, o menino virou para o pai e falou algo que o quebrou: “Eu quero que vocês [pai e mãe] morem juntos. É isso que eu quero”. Imaginei que, depois dessa resposta do menino, o pai fosse ficar quieto (e ele deveria mesmo ter calado a boca), mas disse ainda: “Preste atenção: relacionamentos terminam! Aprenda isso… uma hora ou outra, você vai entrar num relacionamento e vai terminar este relacionamento. A vida é assim e você tem que aprender isso cedo. Relacionamentos foram feitos para terminarem”.

3ª) Durante o final de semana inteiro, o pai esteve no celular, com seu iphone, no WhatsApp, cervejinha do lado, enquanto que o filho permaneceu praticamente 90% do tempo brincando sozinho e sempre a 10 metros do pai. Ele estava lá brincando com a espada imaginária ou com um carrinho feito de guardanapo, com seus amiguinhos imaginários, mas sempre a 10 metros do pai.

Vamos fazer uma breve análise sobre estes fatos… Primeiro, quando a mãe diz “você sabe o quanto seu pai está pagando por isso, quanto que ele gasta”, imagino que na cabeça desta criança comece a vir alguns pensamentos do tipo “se meu pai gasta tanto comigo, se está pagando tanto, sei que pagar é um sacrifício… ninguém gosta de pagar, gosta de receber. Então, ficar comigo deve ser também um sacrifício para meu pai”. Se você coloca o dinheiro à frente da vontade e do amor, se está colocando a necessidade de ele ficar com o pai por causa dos gastos que aquele tem, você começa a se ver como um produto. “Eu preciso fazer, porque ele está pagando e o dinheiro que ele gasta é mais importante do que eu; se eu fosse mais importante, eles não me jogariam isso na cara”.

Em segundo lugar, temos a máxima do pai: “aprenda que relacionamentos não duram, eles foram feitos para terminarem”. Já dá para profetizar o que vai acontecer com este menino e seus relacionamentos daqui para a frente, não? Afinal, se o pai diz que relacionamentos não duram, ele vai aprender isso!

Sabe quando eu falo sobre hipnose? Então, a hipnose não é só aquilo de “olhe pra mim, feche os olhos e durma”. Hipnose é você acreditar em algo, ser influenciado, estar com seu subconsciente aberto para aprender o que foi dito a você. Essa altíssima influência acontece também quando a gente rebaixa o nível crítico em uma relação pai-filho, sabendo que aquilo que um pai faz já é uma hipnose; ele naturalmente está hipnotizando o filho quando diz “relacionamentos não duram”.

Por isso, vale a pena você começar a pensar e procurar entender (caso tenha filhos ou pessoas que gostam e acreditam em você) que tudo o que diz e faz influencia os outros por natureza. Se hipnose é o rebaixamento da crítica e, considerando que uma criança tem, com relação ao seu pai, um nível crítico hiper rebaixado, tudo o que ele fala passa a ser verdade.

Eu não sou pai, mas acredito que, com uma cerveja na mão e um ipad na outra, não dá para criar confiança, amor, amizade, carinho e respeito entre pai e filho.  O meu objetivo aqui não é dar lições de moral, mesmo porque eu não tenho filhos, não sei exatamente na prática o que é criar uma criança. Contudo, tenho dois filhinhos de pelo, dois cachorrinhos que precisam de amor, atenção e comida. Eu sei que quando a gente não dá bola para eles, ficam estressados, zangados, fazem malcriação, saem mordendo e fazendo coisas que não devem… E se o cuidado com estes bichinhos já é tão importante, se cuidar de um cachorro, um gato, um coelhinho em sua casa, já exige tanta atenção e carinho, imagine uma criança que tem muito mais expectativas, sonhos e necessidades.

Acho que estes pensamentos todos foram feitos especialmente para mim, Rafael Baltresca, no futuro; para eu me lembrar disso quando tiver um filho. Imagino que, para ser um bom pai, você não precisa estudar em Harvard, não precisa fazer um mestrado ou doutorado sobre paternidade. Contudo, existem três itens que entendo como fundamentais para uma criação… de um cachorrinho, filho ou empresa.

Comecemos pelos filhos:

  1. Colocar-se no lugar da criança ajuda-o a entender melhor as necessidades dela. É o tal do “foco no cliente” do mundo corporativo; é pensar “o que ele precisa, quais são as suas necessidades”. Neste caso, não se trata de um cliente, mas de seu filho. É colocar-se de forma mais humilde e tirar o foco de si, do próprio umbigo, olhando para o outro a fim de entender o que ele precisa agora, o que realmente quer (será que é um brinquedo, um carrinho, um PlayStation de última geração ou simplesmente a atenção de um pai). É poder identificar e reconhecer quando o seu filho quer um pouco do seu carinho, cuidado, sentir-se importante, único, mais valioso do que uma viagem, o dinheiro do táxi ou da comida que você compra.
  2. Antes de falar ou fazer algo, é preciso parar e pensar: “O que ele vai aprender com isso? Quais aprendizados o meu filho pode tirar com essa baboseira que estou falando?” A minha mãe era muito sábia… Ela dizia:
    “melhor você não falar nada quando não tem o que dizer. É melhor não falar do que estragar algo que depois não tem conserto.” Antes de falar ou fazer qualquer coisa, questionar o que o outro vai aprender com isso é lembrar-se desta hipnose diária: saber que toda palavra vai ter uma influência real na vida dele.
  3. Imagino que este ponto seja o mais difícil, mas não impossível de se realizar, que é o exercitar estar presente. Desligar o celular, tirar a cabeça lá do futuro, parar de pensar no que vai acontecer amanhã e curtir o momento, estar presente com o filho, curtir as bobeiras do dia a dia, aproveitar uma piscina, uma corrida no parque, uma coisa simples como desenhar no papel de pão… tudo isso é curtir o momento presente! Desligar-se do futuro e trazer tudo para o aqui e agora. Acho que o resto das atividades, os ensinamentos, o sim e o não, o pode ou não pode, os limites, tudo isso será consequência desta base sólida, que é educar um filho. Com essa base sólida, feita pelos três pilares “colocar-se no lugar da criança”, “pensar antes de falar ou fazer” e “estar presente”, todo o resto se constrói.

Traçando agora um paralelo com o mundo corporativo, tenho dois amigos que me chamaram para fazer um projeto com eles. Na época, achei muito legal e começamos a pensar naquilo, tivemos boas ideias que nos trariam um retorno financeiro bem interessante, além de nossa satisfação pessoal. Seria um projeto super legal e tinha tudo para dar certo, mas simplesmente não aconteceu.

Acho que o porquê tem a ver com criar um filho… Comecei a notar que os meus amigos, em um certo ponto do projeto, já não estavam nem aí para aquilo, delegavam tarefas para a secretária, como mandar um e-mail, ou para outro amigo que iria pensar e fazer para a gente… um jogava a peteca para o outro e começou também a sobrar para mim as responsabilidades que eram deles! Comecei a ver que ser pai não é simplesmente dizer que tem um filho, mas ser presente e participar. Você já deve imaginar que este projeto foi para o ralo e o motivo é muito simples: porque ninguém quis cuidar da criança. Todo mundo quis ter filho, mas ninguém quis cuidar.

Tive um professor que dizia que uma criança precisa de três coisas, tal como uma empresa, que são: leite, principalmente nos primeiros anos de vida, afeto e atenção dos pais. Em um novo negócio ou um projeto que está sendo iniciado, precisamos exatamente destas 3 coisas: o leite, representado pelo dinheiro, a grana, o capital de giro (que se não houver, o negócio não vai acontecer), afeto, que é o amor pelo que você faz, o gostar daquilo, poder ver o negócio como algo além do dinheiro, que traga benefícios aos outros, além da grana – está mais do que provado que quando você começa um negócio pensando somente no lucro, ele está fadado ao insucesso – e a atenção dos pais, que é o estar presente, cuidar deste novo negócio, trabalhar 2 ou 3h a mais no dia, arregaçar as mangas, pensar nisso o tempo todo e repensar o que está acontecendo. Então, com leite (ou grana), afeto, amor e atenção, o estar presente, o seu negócio começará de uma forma estruturada e muito provavelmente terá grandes chances de dar certo.

Quando a minha mulher foi ao ginecologista, a médica que a atendeu fez uma pergunta interessante: “você quer ter filho ou ser mãe?” De fato, são duas coisas completamente diferentes. Pergunto-lhe o mesmo (em seu campo pessoal ou profissional): você quer ter um filho ou quer ser pai?

Já nos disse a sabedoria popular que “não basta ser pai, tem que participar”, estar presente para ele, este filho, crescer saudável.

Para finalizar, deixo uma frase do Albert Campus que diz: “A verdadeira generosidade para com o futuro é dar tudo de si no presente.

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SOBRE
RAFAEL BALTRESCA

Professor e palestrante desde 1999. Formado em Engenharia Eletrônica, iniciou sua carreira dando aulas de cálculo numérico e lógica de programação em escolas especializadas em reforço ao universitário.

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